No primeiro ato: em 1986, o presidente do Brasil apostou num ritual xamânico para curar um cientista, diante dos olhos do país e do mundo. O que deu errado? Por Flora Thomson-DeVeaux
No segundo ato: a advogada de traficantes que ajudou a unir facções rivais nos presídios – e o impacto que isso pode ter na redução dos homicídios fora deles. Por Bruno Paes Manso
Os sapos
Em janeiro de 1986, o naturalista Augusto Ruschi, conhecido por seu trabalho com beija-flores e orquídeas, deu uma entrevista em que ele fez uma revelação: ele estava morrendo. Numa expedição na floresta, anos antes, ele tinha entrado em contato com um tipo de sapo venenoso, e desde então sofria com sintomas graves. Depois de muitas tentativas infrutíferas de cura, ele estava pedindo socorro a quem quisesse ouvir, implorando pela chance de poder viver mais um pouco.
Quem ouviu foi o então presidente Sarney, que promoveu um encontro entre Ruschi, o cacique Raoni, e o pajé Sapaim no Rio de Janeiro, com direito a aviões fretados pelo governo. Ao longo de três dias, Raoni e Sapaim trabalharam para curar Ruschi num ritual extensivamente coberto nos jornais. No final do ritual, Ruschi se sentia novo. A medicina indígena tinha curado um cientista e era manchete nacional. Mas por que essa história caiu no esquecimento?
A variável surpresa
A advogada Flávia Froes atua há décadas defendendo líderes do mundo do crime sem discriminar a facção, sejam eles do Terceiro Comando, do Comando Vermelho, da milícia ou do PCC. Nos últimos anos, ela fez uma campanha por melhorias nas condições dos presídios onde esses rivais cumprem pena e ajudou a melhorar o convívio entre eles.
Foi um trabalho de diplomacia que pode ter tido, inclusive, algum impacto na redução de homicídios no Brasil nos últimos anos. Só que terceirizar o que deveria ser resultado de uma política pública para a mão invisível do mercado do crime pode ter consequências imprevisíveis. Quem conta essa história é o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador da criminalidade urbana no Brasil desde os anos 90 e autor de vários livros sobre segurança pública.
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