No primeiro ato: um poeta de Instagram contrariado. Por Bárbara Rubira.
No segundo ato: a fotógrafa que destruiu o próprio acervo. Por Maria Cecília Carboni.
Em 2017, o cearense Moacir Fio participou de um encontro de discussões sobre poesia — tema muito caro para ele, um apaixonado por literatura. Mas junto com outros participantes, ele ficou um pouco contrariado quanto ao enfoque sugerido para o encontro: a obra da indiano-canadense Rupi Kaur, cujos textos faziam grande sucesso nas redes sociais. Para Moacir e os críticos, eram exemplos da “poesia de Instagram”: poemas com temas de fácil identificação, mas abordados com pouca profundidade, e que podiam ser consumidos sem grande esforço, rolando o feed das redes.
Moacir decidiu, então, fazer um experimento: criar um perfil para publicar, ele mesmo, sua própria “poesia de Instagram”. Poemas curtos, sobre sentimentos e temas cotidianos, escritos por ele em poucos minutos, nos intervalos do trabalho. Era, para ele, um jeito de provar que qualquer um podia fazer sucesso nesse estilo literário. Mas o que surgiu como uma brincadeira entre amigos acabou perdendo a graça muito rápido.
Quando Maria Cecília Carboni ouviu falar de Dulce Carneiro pela primeira vez, ela já foi apresentada a ela como: “a fotógrafa que destruiu o próprio acervo”. Maria Cecília pesquisa justamente o papel da fotografia como rastro – como aquilo que sobra quando as pessoas morrem e as paisagens mudam. Ao mesmo tempo perplexa e fascinada, ela tentou seguir os rastros possíveis de Dulce – da infância em Atibaia, passando pelos poemas reverenciados por Oswald de Andrade, pela moda, pelo movimento fotoclubista, pela fotografia profissional, até a destruição da própria obra e o autoexílio no fim da vida.
Utilizamos cookies para personalizar e melhorar a experiência na navegação e analisar o tráfego e utilização do nosso site.