No primeiro ato: uma conversa com Sarah Azoubel sobre uma importação que virou exportação. Por Branca Vianna
No segundo ato: as marcas deixadas pelo maior esquema de tráfico de bebês já ocorrido no Brasil. Por Rogério Galindo e Felippe Aníbal
Em 1956, o geneticista brasileiro Warwick Kerr trouxe para o Brasil uma seleção de abelhas africanas. As colmeias nacionais, que usavam abelhas europeias, não estavam se saindo muito bem na produção de mel. Então a ideia era cruzar a variedade africana com a europeia, selecionando as características mais desejáveis de cada uma. A abelha africana era muito mais produtiva e resistente ao clima tropical, o problema é que ela era também mais esquentadinha – a ponto de reagir a qualquer ameaça com um enxame enorme e agressivo. Mas, se tudo saísse como planejado, daria para amenizar essa agressividade no processo de melhoramento genético. Se tudo saísse como planejado.
Em 1983, uma jornalista paranaense foi ao ginecologista para uma consulta de rotina. Após o exame, o médico perguntou: “Você é repórter, não é? Tá acontecendo uma coisa engraçada lá na maternidade, de repente você podia dar uma olhada”. A dica do obstetra levou a jornalista Elza Aparecida de Oliveira a iniciar a cobertura do que viria a ser o maior esquema de tráfico de bebês já ocorrido a partir do Brasil. Ao longo de anos, mais de 3 mil recém-nascidos foram enviados a outros países, principalmente Israel. A quadrilha tinha ramificações em hospitais, cartórios e no juizado de menores em Curitiba. E tinha uma figura central: Arlete Hilu. Sob a liderança dela, o grupo cobrava milhares de dólares pelo envio das crianças. Mas a Arlete Hilu repetia um argumento aos envolvidos: tudo o que fazia era “pelo bem” das vítimas dela.
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