No primeiro ato: uma briga constitucional na calçada da igreja. Por Flora Thomson-DeVeaux.
No segundo ato: uma mãe com bigornas nos pés e gregos na cabeça. Por Vanessa Barbara.
Numa noite em 2015, Mel Rosário foi expulsa da igreja evangélica que ela frequentava no centro de Vitória. Na noite seguinte, ela voltou. E na outra noite. E na outra também. Há quase dez anos, Mel bate ponto regularmente na calçada do lado de fora do culto, protestando pelo direito de voltar. Essa briga tem raízes profundas –e também implicações constitucionais.
Na mitologia grega, o reino dos mortos se chama Hades. O que menos gente sabe é que abaixo de Hades, num abismo sem luz e sem esperança, tinha outro mundo: o Tártaro. Esse era o espaço reservado para os inimigos dos deuses. E foi lá que a Vanessa sentiu que tinha ido parar quando ela se viu mãe na pandemia. Ela estava vivendo um castigo dos deuses, presa no apartamento: acordar, cuidar, limpar, cozinhar, costurar, dormir e repetir tudo no dia seguinte. Mas a salvação dela viria justamente dos gregos – das histórias deles, e das outras que sobreviveram para nos manter vivos.
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